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sábado, 4 de dezembro de 2010

CACHORRINHO FANTOCHE

TEATRO DE NATAL ANJO NO ESPELHO

ANJO NO ESPELHO
Personagens:  Dona Lori – costureira
Lucia – uma menina
Paulo e Alice –  uma casal jovem
Tia Marta – uma senhora idosa
Éder e Marcelo – sobrinhos dela
Zorlova – uma dançarina
Época: algum tempo antes do Natal.
 
Ação: Começa na frente da cortina. Dona Lori está ajustando o traje de anjo em Lucia. As duas estão conversando. De vez em quando Lucia  examina-se no espelho que está de um lado do palco.
 
Lucia: Tem certeza que eu parecerei com um anjo de verdade? A senhora acha mesmo que... que ficarei parecida Dona Lori?
Dona Lori: Sim, claro que sim. E agora fique quieta enquanto eu concerto esta asa. Tua fantasia ficará preciosa com mais alguns ajustes.
Lucia: As asas são parecidas com as de verdade?
Dona Lori: Eu acho...
Lucia: Ah! Se eu pudesse voar! Gostaria de voar bem alto, mais alto que a cidade...
Dona Lori: Isso seria esperar de mais. Se eu pudesse fazer asas de verdade, não seria costureira, você sabe...
Lucia: O que você faria então Dona Lori?
Dona Lori: Nunca pensei nisso... (ela pensa um pouco). Acho que... que gostaria de ter uma pequena loja de cerâmica e vender xícaras e louças pintadas à mão ou coisas semelhantes.
Lucia: E doces também?
Dona Lori: Talvez... (De repente ela volta dos seus sonhos para o presente). Mas agora, vamos experimentar a auréola. (Ela pega-a e coloca na cabeça de Lucia)
Lucia: Como é linda! Parece de verdade! Toda brilhante...
Dona Lori: Eu também acho bem bonita. Acontece que eu tinha um pouco de tinta brilhante sobrando. (Ela ajusta a fantasia e afasta-se, verificando o efeito). Você cada vez mais parece um anjo, Lucia!
Lucia: Será...? (hesitando) mas, nem sempre me sinto como um  anjo, Dona Lori. A senhora acha ser muito ruim se uma pessoa comprar um presente para uma outra e depois querer ficar com o presente? Quero dizer... eu conheço uma menina que economizou seu dinheiro para comprar um estojo de lápis de cor para seu irmão, vinte cores diferentes, e agora... ela quer ficar com os lápis.
Dona Lori: Bem, eu acho que deve faltar-lhe bastante o espírito de Natal, você não acha? Deixa eu ver agora as mangas. Lucia, são do comprimento suficiente em baixo das asas?
Lucia: Mas não seria a mesma coisa se ela desse ao seu irmão uma coisa ... mais barata? A senhora não imagina que estojo mais lindo!
Dona Lori: (Só pensando no seu trabalho) Sim, acho que as mangas estão boas. Faz anos que não tenho mais feito alguma fantasia. (Silêncio, Dona Lori fica examinando a roupa do anjo).
Lucia: (Falando devagar, pensativa) A senhora acha que se alguém me visse, deste prédio de apartamentos, enganar-se-ia pensando ser eu um anjo de verdade?
Dona Lori: Talvez! O efeito seria bom para eles, eu acho Lúcia.
Lucia: Faria alguma diferença para eles, Dona Lori, se pensassem que eu fosse um anjo?
Dona Lori: Diferença? Em que sentido?
Lucia:  Quero dizer... Faria alguma diferença na maneira em que as pessoas agem? Acho que eu agiria diferente se eu visse um anjo...
Dona Lori: Acho que todos nós seríamos atingidos. Mas, infelizmente, nunca saberemos, não é? Pelo menos, não nessa terra... Agora vire um pouco para o lado, Lucia. Como suspeitei, a bainha não está bem certa.
Lucia: Mora muita gente aqui neste prédio, Dona Lori?
Dona Lori: Sim, bastante. Há doze apartamentos, além do zelador. Não se mexa agora. Preciso ajustar o lado.
Lucia: São gente boa?
Dona Lori: Acho que sim. Tão boa quanto a gente encontra no mundo afora. Converso pouco com eles, é claro.(Põe alfinetes na bainha  se afasta, olhando bem sua criação)
Lucia: A senhora virá ao nosso teatro de Natal? Será Sexta-feira á noite, na escola e o ingresso é grátis.
Dona Lori: Ah! Eu gostaria de ir. Então poderei ver de longe como parece sua fantasia.
Lucia : Sou eu o único anjo que tem um papel falado. Os outros somente cantam. Eu canto também parte do tempo. A senhora quer ouvir a minha parte?
Dona Lori: Sim, se você quiser. Só uma coisa: você fica girando devagar para eu poder verificar a bainha.
Lucia: (Girando devagar) Bem, a senhora sabe, os pastores estão aí no palco, admirando-se com a estrela. Há uma no palco que parece  muito com a verdadeira. Então nós anjos entramos cantando. Os pastores se assustam e recuam.  A senhora sabe, eles não estão acostumados a ver anjos no meio da noite.  Então eu falo para eles:  “Não temais; eis que vos trago boa nova, de grande alegria que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor. E isto vos servirá de sinal: ...”
Dona Lori:  (Em voz baixa) “...encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada na manjedoura.”
Lucia: Como é que a senhora sabia?
Dona Lori: Ah! A muito tempo atrás eu aprendi.
Lucia:  Bem, então os outros anjos cantam e  eu digo: “Glória a Deus nas alturas e na terra paz entre os homens a quem ele quer bem.”  E daí os pastores não têm mais medo.
Dona Lori: Você fala muito bem, Lucia. E agora, mais alguns alfinetes... (A campainha da porta toca e ela olha o relógio). Ai, ai, esta deve ser a dona Amélia vindo para experimentar seu vestido. Ela chegou uns minutos antes da hora marcada, mas ela está sempre com tanta pressa... Você se importaria de esperar mais alguns instantes, Lucia? (outra vez  a campainha toca insistentemente). Tomarei conta de dona Amália em outra sala.
Lucia: Não, pode ir dona Lori.  (Dona Lori sai às pressas. Por um momento Lucia fica parada. Então ela corre, lá longe está o espelho). Sabe quem sou eu espelho? Sou um anjo. Mas você já sabe. Humm... será que mais alguém saberia? Se sair pela porta e andar pelos corredores entre os apartamentos! Não levaria muito tempo e estaria de volta antes que dona Lori reparasse.  Espelho, as minhas asas estão bem ajeitadas? E minha auréola não está torta?  E ninguém vai reparar os alfinetes na bainha.(Ela atravessa na ponta dos pés) Até logo espelho! (Lucia sai e a cortina se abre)
 
CENÀRIO: O palco é dividido em três apartamentos:  um apartamento onde estão Paulo e Alice, outro de Zorlova e o terceiro de Tia Marta.  Cada apartamento é indicado por um pequeno arranjo de móveis. Quando as pessoas de um apartamento falam as outras ficam quietas.  Quando a cortina se abre, Alice e Paulo estão conversando em seu apartamento.
Alice: Estou tão contente que você finalmente, concorda comigo Paulo. É muito mais sensato economizar o nosso dinheiro para comprar um carro novo do que visitar sua mãe neste Natal. Afinal de contas, temos ido todos os anos, desde o nosso casamento. Quatro vezes!
Paulo: Mas mamãe está contando com a nossa visita. Será difícil dizer-lhe que não vamos. Afinal papai morreu há pouco tempo, será o primeiro Natal que ele não estará aí.
Alice: Mas há tanta gente lá, nossos parentes, amigos, o pessoal da igreja, nem faremos diferença. E quanto ao que lhe dizer... diga-lhe que seria uma viagem cara, que queremos passar o Natal juntos... que... sei lá eu...(Pausa) Mas não pare de pensar no carro, assim será mais fácil...
Paulo: Não será tão fácil assim...
Alice: ... E no ano que vem iremos de carro. Escreva logo que ela se acostuma com a idéia lá.
Paulo: Duvido!
Alice: Agora você não pode voltar atrás. Vamos pensar em nós neste ano, para variar. Nós e o novo carro!  Sim, vamos esquecer do Natal na casa da tua mãe este ano.
Paulo: Não consigo tirar da cabeça como será o rosto dela quando receber a carta. Eu tenho medo de não ter sossego no meu íntimo.
Alice: Bobagem. (Lucia entra, pára em frente ao apartamento de Paulo e Alice, finge bater.)
Alice: Quem será que está batendo?
Paulo: Irei ver... (Finge abrir a porta e recua um tanto surpreendido) Ué...
Alice: (Curiosa indo para a porta) Quem é você?
Lucia: Eu... “Eis que vos trago boas novas de grande alegria que será para todo povo”. (Ela se volta para ir  embora e diz): Feliz Natal! (Sai dizendo): “Paz na terra aos homens...”
Paulo: Bem, eu... o que você pensa disto?
Alice: Não sei com certeza. Não é nenhuma criança do prédio, disso tenho certeza.  Ah, Paulo, estou me sentindo tão esquisita... Há de ter uma razão para ter acontecido conosco agora... agora que íamos escrever a carta.
Paulo: Você ouviu: paz na terra! Alice, eu acho que isso tem algo a ver com paz no coração também.
Alice: Você lembra que o pastor falou, Domingo, sobre o espírito natalino, espírito de comunhão, união e de paz interior... Ele falou que a época de Advento é para a gente avaliar sua vida... buscar os verdadeiros valores!
Paulo: (Pega a Bíblia e lê Isaías 9.2, 6-7)
Alice: Buscar os valores de Deus... espírito de Natal... acho que não estou fazendo isso... Escreva à sua mãe  e diga que iremos.
Paulo: Você está falando sério?
Alice: Bom, fiquei pensando quando aquele anjo estava parado aí. O carro pode esperar. Mas o Natal não pode.(Entram e fingem fechar a porta) Não podemos esquecer o Natal, Jesus se deu por nós... não é Paulo?
Fecham-se as cortinas
 
(Abrem-se as cortinas. Na sala, arrumada diferente que a anterior, estão dois jovens...)
 
Marcelo: Este vai ser o Natal mais triste, mais solitário, mais monótono que já experimentamos até hoje. Agora temos que morar com a Tia Marta, aposto que nunca mais teremos um verdadeiro Natal.
Éder: Ela não crê em nenhuma alegria do Natal como as outras pessoas:
Marcelo: Dar presentes para ela é bobagem e ter uma árvore de Natal é costume dos pagãos. Ela diz que devemos apenas pensar em Jesus no dia do Natal e nada mais.
Éder: Ela fala do Natal como se fosse uma coisa triste, como se tivesse morrido alguém.
Marcelo: Você lembra em casa, como cantávamos, ríamos... E depois orávamos, todos com verdadeira alegria. Até mesmo os presentes e tudo o mais não era o mais importante.
Éder: Será que Tia Marta concordaria com uma árvore se pedíssemos?
Marcelo: Não sei, acho que não. A mãe sempre dizia que a árvore era um buquê para Jesus, por isso enfeitavam-na bastante...
Éder:  E fica tão lindo!
Marcelo: Também os presentes de Natal, mesmo que fossem simples, como nos deixavam alegres, e na mesa do almoço de Natal, a mesa sempre estava cheia, toda a família e mais um ou outro amigo.
Éder: Queria que... psiu, a tia vem vindo...(Os rapazes abrem um livro e ficam lendo, pois Tia Marta entra com o tricô nas mãos e senta. Depois de um momento ela olha para os sobrinhos por cima dos óculos e fala:)
Tia Marta: Estou contente crianças, que vocês não estão me aborrecendo com estas histórias de árvore de Natal, presentes, almoço... isso são coisas que não devem existir, pois tiram o sentido do Natal.
Marcelo e Éder: Sim, Tia Marta.
Éder: Seria paganismo querermos uma companhia para o almoço? Conhecemos o filho do zelador. Ele vai ficar bem sozinho no dia do Natal, não poderíamos convidá-lo para almoçar conosco?
Tia Marta: O quê? Convidar alguém para o Natal? E um estranho? Éder você me surpreende! (Lucia entra e pára em frente á porta do apartamento de Tia Marta e finge bater) O Natal já está cheio de bobagens, de paganismo (Resmunga até baterem na porta. Ela levanta e vai atender) Mas, quem é você?
Lúcia: Eu sou... “Eis que vos trago boas novas de grande alegria... Paz na terra entre os homens a quem ele quer bem” (Começa a sair correndo, mas então vira-se e diz) Feliz Natal!
Tia Marta: Nunca vi igual!
Éder: Eu nunca vi um anjo antes, a senhora já, Tia Marta?
Tia Marta: (Fecha a porta e senta-se. Os meninos a acompanham. Fala como em sonho enquanto eles a ouvem) Eu já fui um anjo!
Os dois: A senhora?
Tia Marta: Fui um anjo uma vez, numa peça de Natal na igreja, há tanto tempo que quase havia me esquecido... usei uma fantasia branca com asas, depois da peça havia uma árvore de Natal...
Marcelo: Na igreja, Tia ?
Tia Marta: Sim, quase alcançou o teto. E todos receberam presentes e depois cantamos canções de Natal. Ah, foi um Natal maravilhoso!
Marcelo: Como uma árvore de Natal pode ser pagã se tinha uma na igreja?
Tia Marta: (Séria,  pensativa e depois sorrindo) Vocês sabiam que eu falei as mesmas palavras que aquele anjo disse aqui?  Crianças, eu já ia me esquecendo do sentido delas. Alegria...alegria... Acho que esqueci que Jesus foi um verdadeiro presente de Natal para nós e que ele quer que estejamos felizes, muito felizes. Ah, meninos, faremos um Natal muito feliz e Jesus vai nascer aqui também. Poderemos ir na igreja e vocês verão os anjos, pastores...
Fecham-se as cortinas
 
(Abrem-se as cortinas, enquanto Zorlova põe um disco de música erudita e começa a dançar. O telefone toca enquanto ela dança. Desliga o disco e atende o telefone.)
Zorlova: Alô ... ah, é da Associação de Recuperação de Menores Delinqüentes? Ah... é uma entidade da minha igreja? Uma apresentação... que dia? Dia 24? Não posso é uma data muito ruim... Eu quero aproveitar este dia para passear... sei que é um programa importante... uma peça de Natal dançada... eu seria o anjo?  Mas sabe, fica difícil, quanto estão pagando? Como, nada? Entendo... mas a gente tem que viver... bem se eu puder eu ligarei de volta. (Anota o telefone e desliga. Zorlova fica falando sozinha). Não gostei da idéia. Eu que havia planejado visitar uma amiga e divertir-me um pouco... Ele ainda falou que é necessário doar-se... que os jovens iriam gostar... Jovens... são delinqüentes! Garanto que não entendem nada de música erudita e eu, gastar uma noite só para ir lá.  Doar-se, doar-se... ( Lucia entra em cena e finge bater em sua porta).
Zorlova: Quem será (Abre a porta) Quem é você?
Lúcia: “Eu que trago boa nova de alegria, que será para todo povo...”
Zorlova: Para todo povo? ...
Lúcia: “E paz na terra aos homens a quem ele quer bem.”
Zorlova:  Oh!
Lúcia: (Sai correndo e diz:) Feliz Natal!
Zorlova: Um anjo... o senhor da Associação falou do espírito de Natal, espírito de doação... uma boa nova de grande alegria... estranho! (Fecha a porta, vai ao telefone, olha pensativa por alguns instantes, disca o número em voz alta e espera. Quando atende ela sorri). 8-8-7-3-4-7-6... (Aguarda) Alô, o senhor da associação está? Por favor gostaria de falar com ele... sim espero... Como vai o senhor? Algo de estranho aconteceu, consegui entender o que o senhor falou sobre o espírito de Natal... O que foi? Acho que o senhor não vai entender, mas vi um anjo...  Oh, sim, que Deus possa abençoar esta apresentação. Até logo. (Desliga o telefone e ....)
 
Fecham-se as cortinas
 
(Lucia volta na ponta dos pés até a frente do espelho)
Lúcia: Estou de volta espelho.(examina-se cuidadosamente no espelho) . Puxa, eu pareço mesmo um anjo!  Eu me sinto diferente por dentro! Mas os outros que vi nos apartamentos... não consegui ver neles se fez diferença para eles ou não... (a voz de dona Lori é ouvida)
Dona Lori: Até logo dona Amália . Lembre-se, amanhã às três horas...(Dona Lori entra e vê Lucia perto do espelho) O que você está olhando, Lucia?
Lúcia: Um anjo. Não é que eu pareço mesmo com um anjo, Dona Lori?
Dona Lori: Bem, não exatamente. Paciência, só mais alguns alfinetes e  teremos terminado por hoje. (Ela trabalha outra vez na bainha)
Lúcia: Alguma coisa aconteceu enquanto a senhora estava fora, dona Lori.
Dona Lori: Ah, sim?
Lúcia: Sim. Algo de Natal.
Dona Lori: Realmente? Onde?
Lúcia: Aqui mesmo no prédio.
Dona Lori: Não diga!
Lúcia: Sim! A senhora lembra daquele caso que lhe contei da menina que comprou um lindo estojo de lápis de cor para seu irmão?
Dona Lori: Sim, me lembro. Vinte lápis, cada um diferente do outro.
Lúcia: Bem, afinal, ela vai dar todos para ele. Não vai ficar com o estojo para si.
Dona Lori: Mas, que bom! Isto é o verdadeiro espírito de Natal, de doação. Mas como aconteceu, Lúcia?
Lúcia: Bem, a senhora entende, a menina começou a sentir-se diferente por dentro... porque ela viu um anjo...no espelho! (Dona Lori e Lucia se abraçam).
(Pode haver ainda um diálogo final, após o abraço, com algum texto bíblico, mas isso estenderia a peça. Convém pensar na adaptação da peça a cada lugar que for apresentada, sendo seu roteiro vulnerável a melhorias necessárias, dependendo da criatividade do grupo  que irá encená-la).
FIM

FIGURAS DE NATAL